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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

PRAÇA SALVIANO MONTEIRO (PRAÇA DO MUSEU)

Olá pessoal, meu nome é Ana Laterza e eu vou explicar abaixo um dos projetos que está sendo desenvolvidos pelos C.A.S.A.S (Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável), que é um escritório regido por alunos da UnB, mais especificamente da faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O projeto é para a revitalização da Praça Salviano Monteiro, e conta com o professor Frederico Flósculo como orientador. Eu sou a coordenadora do grupo de projeto, do qual fazem parte também a Anatália Araújo, a Audileny Maria e o Cainã Vieira. Os alunos Leonardo Góis, Giulia Garbaccio, Mario Tarallo e Fernanda Goulart também participaram de diferentes etapas do trabalho.

O Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável - CASAS é um grupo de pesquisa e extensão universitária, aberto a todos os estudantes regularmente matriculados na Universidade de Brasília – UnB (Campus Darcy Ribeiro) e, embora seja vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, tem sua administração exercida por um conselho de estudantes, independente de fins político-partidários ou religiosos.
O Escritório Modelo tem como objetivo principal contribuir para a melhoria da qualidade do ensino de graduação, trabalhando junto à comunidade e colocando em prática o conhecimento e a tecnologia gerados e acumulados na Universidade.
O C.A.S.A.S. atende comunidades sem possibilidades sócio-econômicas de terem acesso aos trabalhos desenvolvidos por profissionais da área da Arquitetura e do Urbanismo, distribuindo eticamente a produção universitária e não interferindo no mercado de trabalho de profissionais em exercício regular da profissão.
O trabalho desenvolvido pelo escritório tem como um de seus objetivos proporcionar às comunidades acima descritas a visualização das funções e necessidades da atuação do profissional Arquiteto e Urbanista na construção de um espaço sustentável e digno de ser habitado, ampliando o campo de trabalho destes profissionais por meio do reconhecimento e conscientização destas populações, além de promover a troca de experiências entre universidade e comunidade.

A PRAÇA
A UnB de Planaltina-DF realiza um curso de extensão em educação ambiental, sob coordenação da professora Nina Laranjeira. Uma moradora local, Simone Macedo, participa do curso, e o seu projeto é a Revitalização da Pracinha do Museu (Praça Salviano Monteiro Guimarães), principal praça histórica da cidade. O objetivo, ela descreve, é: " fortalecer um vínculo da comunidade com a sua cultura regional, despertando a sua identidade e o compromisso com o patrimônio histórico e cultural da cidade". Para isso, Simone reuniu interessados e fundou a Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina. O projeto possui um plano de ação bastante abrangente, e uma das ambições é reformar a praça, que está sendo subaproveitada. A Associação então entrou em contato com o Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável (C.A.S.A.S), requisitando um projeto paisagístico para o local.
"A Praça Salviano Monteiro Guimarães é patrimônio histórico do Distrito Federal, tombada pelo Decreto nº 6939 de 19/08/1982. Possui vários casarões do século XIX e início do século XX, algumas ainda com fachadas conservadas, hotéis, escolas, residências e comércio em geral. Nessa praça que se hospedaram os membros das primeiras expedições que vieram para explorar e demarcar a área do DF. Esse patrimônio histórico e cultural já sofreu grandes modificações e hoje está ameaçado.(...)

Das 13 edificações da praça, três são instituições: o Museu Histórico - primeira residência da cidade, tombada pelo IPHAN/Depha como patrimônio histórico do DF, a casa do idoso: Gabriela Guimarães e o CEMEC - Centro Murialdo da Criança e do Adolescente “Etelvina da Silva Campos”. Dois hotéis: o Hotel da Praça e o Hotel Casarão, quatro residências, um casarão fechado, uma floricultura, um bar e um convento de freiras onde também funciona uma escola. A praça que era a vida da cidade, atualmente enfrenta problemas de toda ordem e é um espaço pouco usado pelos moradores. Seus jardins mal cuidados refletem o estado de abandono. Sua revitalização abrirá uma discussão importante sobre a preservação de todo o conjunto arquitetônico antigo da cidade e da necessidade de sua utilização para divulgação da história e da cultura regional, e, também, para a integração e lazer da comunidade local." (Trecho extraído do projeto da moradora Simone Macedo).   

(situação atual da praça)


DIAGNÓSTICO

O acesso à praça não está de acordo com as exigências da NBR 9050, que normatiza a acessibilidade aos espaços edificados. Apesar das visíveis tentativas de adequação, as rampas ainda não possuem corrimãos, inclinações satisfatórias ou texturização adequada. O piso encontra-se danificado, principalmente devido às raízes das árvores, mas também pelo fato da própria paginação ser deficiente em alguns locais, como por exemplo, na pista de patinação. Existem também exageradas diferenças de níveis, canteiros gramados e arbustos, que impedem a livre circulação de pedestres pelo ambiente. A praça acaba sendo fragmentada em várias praças menores, cada uma com uma característica diversa, o que a torna um espaço fragmentado e sem unidade.
A área próxima ao bar da praça, na frente do Lar dos Idosos, é a mais iluminada e utilizada, também pelo fato de ser a mais plana e desimpedida. Muitos vendedores com barraquinhas se apropriam do local para exercerem suas atividades, o que também contribui para a aglomeração de pessoas nesse canto da praça.
Na frente do hotel "O Casarão", há um ambiente bem arborizado e sombreado, com alguns nichos que sugerem espaços de introspecção. Entretanto, os jardins suspensos fazem com que algumas áreas sejam inacessíveis e acabam se tornado espaços residuais.
A região que fronteia o Museu de Planaltina é a mais deficiente, repleta de caminhos tortuosos, configurando um labirinto inutilizado, nem um pouco convidativo à contemplação da edificação, que acaba sendo desvalorizada pela configuração da praça.
O palco de atividades e seu entorno árido são a primeira visão de quem entra na cidade pela Avenida Goiás, entretanto não dizem nada a respeito da praça e são raramente utilizados. Quando ocorre algum evento, é improvisada uma cobertura de lona, caso contrário o palco se torna um ambiente hostil, um concretão exposto a forte incidência solar.
Apesar de a praça ter sido criada para quebrar o perigoso fluxo de automóveis da Avenida Goiás, o eixo transversal da praça continua a ser utilizado como travessia por pedestres e ciclistas, o que constitui uma ameaça aos usuários, em sua maioria idosos. O ambiente também possui mobiliário urbano deficiente: a iluminação é precária, não existem lixeiras ou banheiros públicos, e os bancos encontram-se em mal estado de conservação.
As árvores e os canteiros, apesar de possuírem grande potencial paisagístico, não estão sendo aproveitados da melhor maneira possível. Os meios-fios e os bancos caiados também não colaboram com a aparência da praça, apenas reforçam o seu aspecto mau cuidado.É preciso reavaliar a praça quanto aos seus conceitos. O seu espaço deveria funcionar como um anexo do museu e dos casarões históricos, remetendo à memora e à história dos planaltinenses, entretanto isso não acontece. A praça deveria ter como foco os moradores da vizinhança, ao mesmo tempo se afirmar como ponto turístico, mas ao invés disso, passa a maior parte do tempo desocupada e sem vida.


O PROJETO

Foi realizada uma entrevista com 30 (trinta) moradores do entorno da praça. O projeto foi elaborado com base nos resultados, procurando atender aos anseios de todos.
A principal proposta é limpar o espaço e liberar os fluxos. Sem barreiras ou obstáculos, a praça se tornaria uma página em branco, um espaço multiuso para qualquer tipo de atividade que possa vir a se desenvolver. Os próprios usuários que passariam a freqüentar o ambiente se tornariam o mobiliário da praça. Seriam implantados bancos no perímetro, e o máximo de árvores existentes seria mantido. Todos os canteiros, arbustos, a arquibancada e o palco seriam substituídos por um traçado mais limpo, sintético e racional.
Havia na praça um coreto, que foi demolido, mas foi relembrado por diversos moradores durante a pesquisa realizada. A idéia é reconstruí-lo, porém com um partido funcional. O desnível da praça seria aproveitado para criar, a partir do coreto, dois níveis de atividade: No superior, aconteceriam as atividades clássicas desse tipo arquitetônico (apresentações, banda, atividades culturais, etc.). No inferior, seria instalada uma loja de artefatos turísticos, dentro da qual haveria banheiros públicos e bebedouros. A sua manutenção ficaria a encargo da administração do museu.
Esse desnível criado serviria para amenizar o fluxo transversal de ciclistas na praça, assegurando maior segurança aos idosos que freqüentam o ambiente.
Haveria também outro elemento marcante na praça: um caramanchão linear sombreando o percurso longitudinal da praça, com bancos-jardineiras na base da estrutura.
Toda a paginação da praça seria de concreto pigmentado, com bordas bem demarcadas nas argolas das árvores, limites de canteiros, meio-fios, calçadas, etc. A questão da acessibilidade seria tratada com diferenças de texturas, rampas com inclinações adequadas e banheiros bem dimensionados.O projeto se encontra em processo de detalhamento, e há grande possibilidade de execução, pois as autoridades já se demonstraram interessadas, e a Associação de Amigos do Centro Histórico se mantém na luta pela revitalização da praça.
(bancos da praça, do caramanchão, do bosque da praça e caramanchão)

(projeto para a praça - planta)

(coreto - planta baixa do nível inferior)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A casa amarela

Por Simone Macedo


Uma morte anunciada.
Na sexta-feira, dia 01/08/2008, desabou o teto do casarão amarelo da "D. Negrinha", na esquina da pracinha da igrejinha São Sebastião. Um tombamento em sentido literal, uma morte anunciada.
Foto: Moisés Yousef
Minha sensação de impotência aflorou na percepção de que o tempo das coisas, da vida, das casas, dos casarões... não é o mesmo tempo da burocracia, nem tampouco o do reconhecimento dos nossos dirigentes em relação à necessidade de preservação do patrimônio histórico cultural da cidade.

O casarão fica na minha passagem cotidiana, a toda hora eu me pergunto:
"Até quando a estrutura centenária irá suportar nossas vaidades individuais e a negação da nossa história, da nossa memória, da nossa identidade?"